A semana no Rio começou com café da manhã numa padaria conhecida de outros tempos, curiosamente, o local escolhido para o curso de português do T. Na segunda-feira, tudo ainda parecia "normal", apesar de eu já estar tentando não tocar em nada e ficar lavando as mãos constantemente. Tomamos café, conheci a professora e fui fazer algumas coisas em Botafogo que tinha planejado antes da viagem. Uma delas não muito sensata, mas era neste dia ou nunca mais: tomar a terceira dose de uma vacina. Naturalmente o posto de saúde estava cheio e esperei horas, mas consegui fazer também a do sarampo e valeu a pena.
O tempo passou voando e logo já estava na hora de buscar o T. Neste dia resolvemos ir até a Rio Star, a nova roda-gigante. Foi uma decisão acertada, pois foi o último dia de funcionamento. Antes, descemos na Cinelândia e fomos caminhando pelo centro, passando pela Igreja da Candelária e pelo Museu do Amanha, que estava fechado. Depois pegamos o VLT para chegar mais perto do local no porto em que fica a roda-gigante. O passeio foi bonito, gostamos. Ainda deu para tomar um chope no final. A volta para Ipanema foi de VLT e metrô. T. pode ver um pouco da nossa desigualdade. O trem pra Zona Sul praticamente vazio. Já pra Zona Norte, apinhado. Naquela semana, começariam as restrições no transporte público, como ônibus apenas com passageiros sentados.
Na terça-feira, pensamos em completar os dois últimos itens da nossa lista: uma água de coco na Lagoa e uma visita ao Jardim Botânico. A professora foi até nosso apê e depois da aula, caminhamos pela Lagoa até o Parque dos Patins, onde tomamos uma água de coco. Já estava tudo vazio, não sei se por ser dia da semana ou se já por prevenção ao vírus. No meio do caminho, bateu uma fome avassaladora. Pensamos em ir na Casa Camolese, mas só encontramos o Rubaiyat aberto. Foi caríssimo, mas foi bom. Nunca mais tinha voltado lá desde o meu aniversário de 40 anos. Quando finalmente atravessamos a rua para ir ao Jardim Botânico, ele havia sido fechado antecipadamente e até hoje ainda não reabriu. Teve que ficar para uma próxima viagem.
Na quarta-feira, novamente café da manha na padaria de Botafogo e aula do T. A esta altura do campeonato já havíamos decidido não ir a SC e ao RS. Então fui providenciar caixas para enviar pelo correio o que havia levado para a família. Depois de apanhar o T., pegamos o metrô e fomos almoçar no Joaquina de Copacabana, com o plano de depois caminharmos um pouco pela orla e bebermos uma caipirinha num quiosque, um desejo antigo que eu tinha, mas quem sugeriu foi o T. Apesar de o clima já estar estranho, tivemos uma tarde bem agradável. O dia estava quente e bonito. Na volta a pé para casa, compramos algumas coisinhas para nosso jantar em casa.
A quinta-feira chegou com notícias de mais restrições em praticamente tudo. T. havia se cadastrado no site do consulado alemão e a recomendação era voltamos o quanto antes para a Alemanha. O nosso novo plano de ficar as três semanas de férias no Rio já não fazia mais sentido. Decidimos então antecipar a volta. Como o apartamento estava alugado até a segunda-feira, tentamos remarcar nossa passagem para este dia. Não havia mais vagas, mas conseguimos para a terça-feira. Maravilha! Ainda teríamos um fim de semana no Rio. À noite, saímos para aproveitar o pouco que ainda estava aberto. Acabamos indo novamente no Paz e Amor. Os demais já estavam fechados – mas por sorte na segunda e na terça, fomos ao Gula Gula e ao Via7.
Estávamos lá aproveitando nosso jantar, quando eu ouvi que o governador estava pensando em fechar os aeroportos já no sábado 21. Gelei. T. ficou sem entender quando fiz uma cara de muita preocupação. Havíamos acabado de mudar nossas passagens e agora aquilo? Bem que um amigo de Milão havia me alertado para não viajar porque poderia haver problemas “logísticos”... Nova decisão: como nosso novo voo partiria de todo modo de Guarulhos, decidimos ir para São Paulo. Quem sabe conseguiríamos antecipar o voo indo pessoalmente à Air France.
Na sexta-feira, depois da última aula de português, juntamos nossas coisas e pegamos nosso voo. Depois de ver que não haveria como alterar o voo, porque simplesmente não havia mais lugar livre, escolhemos um bom hotel, com cozinha e uma pequena sala, e passamos os últimos dias no Brasil estudando português, vendo tv e fazendo um companhia ao outro. Por incrível que pareça, os dias passaram voando. Fomos três vezes ao supermercado ao lado do hotel e compramos uma pizza ali perto. Dispensamos o serviço de quarto e até cozinhamos em nosso pequeno apê. Na noite da pizza, colocamos nossas melhores roupas, abrimos um vinho e simplesmente agradecemos por, apesar de tudo, estarmos bem, protegidos e felizes.
Até mesmo no hotel a situação foi se alterando. Piscina, academia e sauna fecharam quando chegamos. O café da manhã no último dia foi servido no quarto por sugestão do próprio hotel. Havia álcool gel na recepção e também próximo ao elevador e na entrada do restaurante. Os funcionários estavam de máscara e alguns com luvas.
Na terça-feira, fomos para o aeroporto algumas horas antes de nosso voo. Ainda deu para almoçar uma última vez num quilo, tomar uma última caipirinha e colocar cartões-postais no correio.
Este blog já se chamou Cenas do Rio na época em que morei no Rio de Janeiro. O título nunca fez muito sentido, pois o Rio acabou nunca sendo o tema principal. Acho que o novo título, Uma vida em vários cenários, tem mais a ver neste momento. :) O endereço, porém, por ora, continuará o mesmo.
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