Dias desses, como escrevi logo abaixo, assisti Comer, Rezar, Amar. Uma das cenas do filme me veio à mente ao pensar um pouco sobre o título do livro de Veronika Peters, que acabei de ler neste fim de semana. A personagem de Julia Roberts posiciona-se em frente a uma daquelas garagens-depósito tão comuns nos Estados Unidos e comenta que a vida dela cabe toda naquele cubículo. O funcionário rebate dizendo ter ouvido aquela mesma frase várias vezes e que muitos nunca mais retornam para buscar "toda a vida ali deixada".
O título do livro da alemã Veronika Peters - O que cabe em duas malas, uma viagem para dentro - remete a ideia semelhante, apesar de não parecer ter relação direta com a história contida nele. Veronika, ela mesma e não uma personagem, decide tornar-se freira. Escolhe uma ordem, a conhece um pouco e depois de algumas experiências decide virar noviça, entrando para o convento. Ao chegar, carrega consigo duas malas. Tudo que ela tem está ali. Na verdade, percebe-se depois, muito mais do que ela precisaria, mas muito menos do que sua vida realmente é.
Quando me mudei para o Rio, trouxe três malas médias e enviei pela transportadora duas caixas grandes. Claro que ainda sobraram algumas coisas no apartamento de Florianópolis e mais um tanto em Vacaria, mas analisando friamente ali estava "minha vida" ou o que eu achava importante naquele momento. Alguns poucos livros, roupas e sapatos, uma televisão (!) e algumas quinquilharias eletrônicas.
Analisando um pouco, e talvez caindo no óbvio, penso que somos mais do que aquilo que carregamos, literalmente, conosco. Minha vida toda não cabe de jeito algum em um depósito, tampouco em duas ou três malas. Por outro lado, talvez nem precisasse de uma bolsa para transportá-la toda, pois a levaria completa comigo, na minha cabeça. Talvez também nem precisasse carregá-la, ela estaria por aí, nas lembranças dos meus amigos mais chegados, podendo ser resgatada, ou pelo menos parte dela, por onde eu andasse.
Tudo isso acabou levando meu pensamento a armários cheios de sabe-se-lá-o-quê que costumamos manter em nossas casas. A estantes cheias de livros que nunca serão lidos por ninguém - às vezes nem pela gente mesma. E tantas e tantas outras coisas - cada um de nós tem as suas, os seus guardados. Não é fácil nos desfazermos do que imaginamos fazer parte de nossas vidas e que um dia iremos ler, ouvir, vestir, usar de alguma forma. Doce ilusão essa nossa.
Talvez a leitura desse livro tenha relação direta com uma tentativa de mudança. Ao arrumar a estante de casa dias atrás, tomei a decisão de ler todos os livros que estão ali e, após lê-los, passá-los adiante. Resolvi me dar o direito de guardar Cem anos de solidão e alguns outros poucos de estimação, mas é certo que tentarei esvaziar um pouco a estande onde não cabe mais nada - até mesmo para entrar coisas novas.
Sendo assim, se alguém tiver interesse em ler o livro desta escritora alemã, me deixe uma mensagem ou me passe um e-mail com seu endereço. Será um prazer dá-lo a você, MAS para ser lido, não para encher biblioteca!
Este blog já se chamou Cenas do Rio na época em que morei no Rio de Janeiro. O título nunca fez muito sentido, pois o Rio acabou nunca sendo o tema principal. Acho que o novo título, Uma vida em vários cenários, tem mais a ver neste momento. :) O endereço, porém, por ora, continuará o mesmo.
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4 comentários:
Oi, Rafa, eu quero ler o livro.
E não para encher estante. Prometo passá-lo adiante depois da leitura.
Vou te passar meu endereço pelo Facebook.
Beijo.
É seu, Daise!
Endereço já ganhou um envelope com livro dentro! :)
Beijos,
Rafa
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