Hoje recebi pelo correio o livro
Esmeralda - um lugar, um anel e uma história, escrito pela professora Jussara Goulart, que nunca foi minha professora, mas cresci acostumada a chamá-la assim e assim será para sempre. Afinal, bastava dar aula no colégio (e era "o" colégio mesmo, pois só tinha um) para ganhar este
prefixo junto ao primeiro nome. Para mim serão sempre o professor Edgar, a professora Dirce, a professora Luci ou o professor Luiz...
Quando eu penso em Esmeralda, parece que estou imaginando uma história escrita mesmo em um livro.
Já faz tanto tempo e ao mesmo tempo parece que foi ontem que saí noite alta da casa do João Luiz e da Nice na companhia da Lisély, inseparável, caminhando para casa, olhando o céu estrelado e a avenida vazia.
Que pedalava alucinada com minha bicicleta novinha e linda em um circuito imaginário que passava pela frente do casarão do seu Tolotti e da dona Ana, seguia até a casa da avó da Carla lá no começo da cidade, quebrava à direita no posto do seu Gargioni e depois seguia pela rua de trás até a casa da dona Hecilda. Quantas vezes coubesse naquele intervalo entre o final da tarde e o cair da noite.
Que ficava horas, literalmente, pendurada no telefone com a Liliane. Bah, tínhamos assunto! Volta e meia a telefonista dava uma conferida na ligação - afinal o número de linhas era limitado. O DDD, acabei de conferir no livro da professora Jussara, só começou a funcionar em Esmeralda em novembro de 1992. Eu já tinha 16 anos!
Que chegava em casa no inverno, a cozinha estava aquecida pelo fogão à lenha e a mãe estava fazendo alguma coisa boa para a janta - porque jantar é uma palavra que só viria a usar muitos e muitos anos depois. Com a barriga cheia, o programa era ir assistir televisão apertados na ex-lavanderia, o menor quarto da casa, que havia ganhado uma lareira, um sofá e uma televisão com videocassete - comprados logo depois do meu aniversário de 15 anos.
Quem, sem nunca ter morado em uma cidade pequena, acreditaria que por muitos anos eu sabia dizer em ordem de localização o nome de todas as ruas de uma cidade inteira? Ou que era possível saber de cabeça o aniversário de um terço dos moradores? (Tudo bem, aqui nem eu acreditaria, mas talvez ajude dizer que eu fui estagiária em um banco por dois anos e tinha acesso ao cadastro de boa parte da população.)
Ter o livro da professora Jussara nas mãos ajuda a resgatar as minhas lembranças, assim como a perceber que aquelas histórias vividas ao longo de 17 anos e quatro meses não são apenas fruto da minha imaginação.