Faz alguns dias que os funcionários da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) estão em greve aqui no Rio de Janeiro. Finalmente notamos que eles existem. No dia a dia, costumam ser invisíveis aos nossos olhos, mesmo com aquele uniforme de cor berrante. Muitos de nós nem imagina o quanto o trabalho dessas pessoas é muito maior por conta de nossa falta de educação.
Melhor do que só reclamar da imundície que tomou conta da cidade, talvez esta seja uma boa hora para pensar o quanto eu tenho a ver com tudo isso.
Eu, que vou ao cinema, mas me esqueço de levar até a lixeira aquele saco com resto de pipoca e o copo de coca-cola que estão enfiados no suporte ao lado da minha cadeira.
Eu, que saio para passear com meu cachorro e disfarço que aquele cocozinho não foi meu filhotinho quem fez, deixando-o ali na porta do prédio de outra pessoa.
Eu, que até recolho o resíduo produzido pelo meu cachorro, mas me desfaço dele de qualquer jeito na lixeira laranja como se ninguém mais fosse mexer naquele jornal semiaberto pelo resto dos tempos.
Eu, que na calada da noite coloquei aquele sofá velho na rua por pura preguiça de ligar para o serviço de coleta de grandes volumes da Comlurb.
Eu, que tenho filhos pequenos, mas continuo achando esse assunto de separação de lixo coisa de ecochato.
Eu, que não separo o lixo porque no meu prédio não tem coleta seletiva – e dane-se que no final da tarde aquele cara que vive de catar lixo vai ter que meter a mão na minha sacolinha que contém uma mistura de lixo orgânico com as latinhas de cerveja da festa de ontem - que têm peso de ouro lá na cooperativa dele.
Aliás, aquela sacolinha nem é mais minha, pois na hora que saiu do meu apartamento eu não tenho mais nada a ver com ela.
Eu, que sou obrigada a jogar lixo no chão porque nesta cidade não existem lixeiras suficientes – mesmo tendo espaço de sobra neste saco, digo, nesta bolsa enorme (linda, né?, comprei na minha última viagem ao civilizado Primeiro Mundo), para guardar o lixo até passar por uma lixeira.
Eu, que vou à praia e deixo meu lixo amontoadinho na areia. Gosto de facilitar o trabalho dos garis.
Eu, que estou a quatro passos da lixeira, mas o sinal vai abrir, minha vida é uma correria só, e vou ter que jogar esta garrafinha aqui mesmo, pois estou com pressa.
Eu, que tenho sacolinhas de supermercado suficientes para ensacar o lixo da minha casa pela próxima década, mas continuo achando uma chatice essa história de levar uma sacola de pano ao mercado.
No final, eu, que falo várias línguas, estou fazendo mais uma pós-graduação, convivo com pessoas inteligentes e viajadas... sou incapaz de pensar no outro e de entender que o lixo que produzo é meu problema sim.
Só seremos pessoas melhores - ou, no mínimo, mais civilizadas - no dia em que pensarmos de maneira mais responsável sobre o que consumimos, o tipo de lixo que geramos e os possíveis destinos que ele terá. Isso para mim não é papo de gente chata que fica só falando sobre meio ambiente, isso é uma questão de educação.
E aí, você é educado?
Este blog já se chamou Cenas do Rio na época em que morei no Rio de Janeiro. O título nunca fez muito sentido, pois o Rio acabou nunca sendo o tema principal. Acho que o novo título, Uma vida em vários cenários, tem mais a ver neste momento. :) O endereço, porém, por ora, continuará o mesmo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Olá, mundo!
Estou há tanto sem escrever aqui ou sem visitar os blogs amigos, mas sempre penso no blog e sinto falta. Aconteceu tanta coisa nos últimos ...
-
Em dezembro de 2011, viajamos de Porto Alegre até Colônia do Sacramento de carro. Foi uma ótima experiência. A viagem é muito tranquila. ...
-
Desde que moro no Rio, leio a coluna da Martha Medeiros na Revista do Globo, ou seja, quase todo domingo. Antes de mudar-me para cá, eu era ...
-
No curso de italiano, de vez em quando, escutamos algumas músicas. Uma delas foi “L'isola che non c'è”, de Edoardo Bennato, música q...
Um comentário:
mais uma vez você acertou, amiga! bjs
Postar um comentário